Eberton em um dos muitos eventos geeks e de quadrinhos onde promove suas revistas autorais independentes. (Foto: Arquivo do autor) |
Hoje estamos trazendo uma entrevista inédita com o quadrinhista e roteirista independente de São Gonçalo, RJ, Eberton Cardoso Ferreira, criador do selo FANZINESTON, que representa seus gibis independentes que estão despontando há algum tempo no meio dos quadrinhos independentes, resultado de seu incansável entusiasmo que facilmente podemos perceber quando conhecemos o Ton, como muitos o chamam. Tal como afirma em seu blog, FANZINESTON, é artista que se desdobra numa equipe de um homem só, acumulando várias funções, dentre elas, a de criar, roteirizar, ilustrar, diagramar, etc. Dentre suas criações estão os personagens infantis "Binho & Quinha" e "Brasileirinho & sua Turma” e a série de terror a "Rede da Carne" e Xamã, o Espírito da Terra. Destacamos nesta edição a série "Causos" - O Demônio das Matas", uma graphic novel do autor que traz elementos do folclore brasileiro numa original abordagem explorando as possibilidades de releitura com valorização da cultura nacional. É o Demônio das Matas que o Raphael Viana, talentoso bolsista da equipe do IFanzine, retratou numa fan-art que ilustra esta entrevista com nosso incansável artista gonçalense. De Raphael também é a entrevista que Eberton gentilmente nos concedeu, confira:
Eberton, quando e como foi seu primeiro contato com o mundo dos fanzines?
Como a maioria de nós: lendo gibis de super heróis quando criança. Aos nove anos me peguei criando meus próprios personagens e comecei a fanzinar, mesmo não sabendo o significado da palavra na época.
O que te levou a querer produzir e publicar um fanzine?
Bem, na verdade desde garoto sempre quis ser lido. Então confeccionava meus quadrinhos e os mostrava para parentes, depois para amigos, mas ficou por isso mesmo.
Quando deixei de ser um menino e me tornei um jovem, precisei parar com as criações pois vieram as responsabilidades (trabalho, carreira, casamento e família) - onde, por dez longos anos, me afastei dos fanzines.
Daí quando montei meu próprio negócio me vi com tempo novamente para criar e desenhar e resolvi voltar! E encontrar nas redes sociais esse universo de artistas pipocando a cada dia com seus trabalhos independentes me motivaram a levar a arte de fanzinar mais à sério. .. Então estou aqui, desde 2010 tentando conseguir entrar nesse mercado competitivo e restrito, mas maravilhosamente belo!
O que te inspirou a criar o Demônio das Matas? E por que ele?
Quis criar uma história com bastante brasilidade, usando elementos do nosso folclore de uma maneira jamais contada antes. Assim surgiu a série CAUSOS onde, a cada revista, retratarei a origem da lenda de algum personagem folclórico, mas sempre surpreendendo o leitor com uma narrativa de suspense / terror com aventura.
Como você acha que sua arte influencia o meio em que ela se insere? Como ela pode gerar inspiração?
Acho que toda arte influência as pessoas de alguma forma inspirando a realizações de novos trabalhos ou mesmo na catalização das idéias.
Procuro direcionar os meus roteiros para abrir a mente dos leitores sobre as várias possibilidades em que uma história pode se desmembrar, para ser contada tentando inspirar brasilidade e enaltecer a nossa própria cultura.
Qual sua visão do atual do mundo dos quadrinhos e dos fanzines?
Os quadrinhos sobrevivem em um mundo que parece ter se esquecido dele. As bancas de jornais estão migrando para vendas de qualquer outra coisa que não seja impressos e as mídias já não incentivam a leitura da nona arte. Mas o público fã de HQs não desistiu, nós também migramos e fomos parar em livrarias especializadas, eventos geeks destinados ao público nerd e na própria Internet. Nas redes sociais, felizmente, vemos o movimento crescer a cada dia, onde quadrinistas e fanzineiros fomentam um mercado que se transformou para sobreviver à crise e que segue mais forte a cada ano que passa!
Nós vimos que seu trabalho, diferente de alguns zines, tem um melhor acabamento e construção que pode ser comparado ao padrão comercial do mercado de HQs. Qual é, na sua opinião, a maior dificuldade para um desenhista/roteirista publicar seu trabalho com melhor qualidade, como o seu?
Tenho raízes no fanzine, tanto que o meu selo se chama Fanzineston e não irei mudá-lo exatamente para que as pessoas possam associar de onde vim, como comecei. Mas hoje não sou mais fanzineiro, subi alguns degraus e me tornei quadrinista independente. Procuro melhorar, a cada trabalho, minha arte e narrativa, buscando conquistar o público mais crítico e exigente, não só com o acabamento das revistas, mas também com o seu conteúdo.
Existe uma infinidade de dificuldades para os artistas e que vão desde a falta de estrutura/apoio para que possa se sustentar da própria arte. Em relação às editoras, hoje são raras aquelas que publicam custeando 100% das impressões. Por conta da falta de capital, os artistas acabam tendo que fazer o trabalho que deveria ser feito por uma equipe. Muitos quadrinistas, além de se desdobrarem entre roteirizar, diagramar, ilustrar, finalizar a arte, introduzir os textos e onomatopéias, criar as capas e editoriais, ainda precisam capitalizar grana - geralmente do próprio bolso - para poder realizar a impressão das suas revistas. Eu mesmo me encaixo nesse perfil.
Qual a sua visão sobre o mercado editorial aqui no Brasil?
Restrito. Sem apoio e com um monopólio no que diz respeito a distribuição de materiais impressos. Mas "sou brasileiro e não desisto nunca!" (rsrsrsrs) e acredito que um futuro mais próspero nos aguarda, em que o mercado se abrirá novamente, dando emprego de verdade para os artistas do nicho em que se que constitui a nona arte!
O Demônio das Matas - Fan-Art de Raphael Viana (Sirius) |
Para adquirir as publicações do autor:
Eberton Ferreira
eberton.ton@gmail.com
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